sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Ser Punk - Por Greg Graffin, vocalista e líder do Bad Religion desde sempre


”Recebi uma carta de um punk que afirmou que era fã do Bad Religion. Era, isto é, até nós o decepcionarmos lançando nossos dois últimos discos, os quais não se encaixaram em sua definição de punk. Não havia nenhuma música contra o sistema, ele alegou (o que não é verdade, a propósito), então 'como você pode chamar isso de Bad Religion? De fato, como vocês podem se chamar de punks?'” Por Greg Graffin/ Bad Religion


"Ele continuou a afirmar que nós não sabemos nada sobre o que é ser punk porque 'estamos muito longe disso'. Ele estava claramente com raiva e intolerante com o que nossas músicas recentes tinham a dizer. Ele acreditava que a santidade do punk havia sido infringida de alguma forma pelos nossos dois últimos discos (mas ele também declarou que nossos sete discos anteriores também eram culpados de tal traição).


No mesmo dia, abordei uma pessoa na rua na cidade em que eu moro e ela me reconheceu como vocalista do Bad Religion. Assim como o cara que me mandou a carta, ele também era punk, mas não estava com raiva ou me julgando. Nós conversamos um pouco e ele falou sobre como hoje em dia cada vez mais jovens em geral estão hostis e estranhos e não querem ouvir ninguém mais além de seus confortáveis círculos de amizade. E em como as pessoas parecem estar motivadas atualmente por uma força invisível de mente fechada. Seu desejo aberto por opinião e seu foco em assuntos relevantes tinham frescor e lembrei-me de todas as coisas legais a respeito dos punks com quem eu cresci e com que ainda interajo hoje: abertos, inclusivos, despretensiosos e não arrogantes e dispostos a confrontarem pessoas ou instituições que parecem injustas ou falsas. Ao invés de estarmos preocupados em estabelecer uma instituição que poderia excluir outros, nós estávamos interessados em incluir pessoas que se sentem deixadas de lado ou desiludidas com seu círculo social.


Naquele dia, eu vivenciei uma das melhores coisas sobre o punk - os traços mostrados pelo garoto na rua - e a pior coisa - o pensamento negativo, egoísta, dogmático do garoto que escreveu a carta. Ambos se auto-intitulavam punks e eram de pólos ideológicos opostos. Há 16 anos sou membro dessa estranha subcultura e eu percebi que existem facções liberais e conservadoras. Nesse sentido, é um microcosmo de sociedade em geral. É uma tarefa insana tentar definir o punk universalmente. Seus significados são confundidos em todo lugar por circunstâncias contextuais. Uma garota de 16 anos de uma família rica e religiosa que vai à igreja todo domingo, com seu moicano verde e uma camiseta escrito ‘Fuck Jesus’ é punk. Mas é também punk um professor de biologia de 42 anos que alega que as idéias de Charles Darwin estavam erradas. Nenhumas das pessoas ouviram falar ou se conhecem e nem freqüentam o mesmo clube underground. Mas suas lutas para estabelecerem instituições e reações ao pensamento dogmático as une espiritualmente. Se isso é genético ou ensinado, não sabemos. Mas eu também sinto carinho por todos que compartilham desses traços. Eu não me sinto conectado com aqueles que são exclusivistas, elitistas e que pensam que seu modo de vida é um modelo de como os outros devem viver. Minha filosofia foi feita pelo pensamento aberto de meus pais é claro, mas também através da desordem que eu vivenciei enquanto crescia. Enquanto eu percebia que muitas crianças sofreram mais do que eu, encontrei muita gente que se auto-intitulava punk e que tiveram experiências parecidas com as minhas.

(...)

Estranhamente, o punk está rapidamente se tornando mainstream. No ano passado, mais pessoas compraram discos punks, vídeos, camisas e ingressos para shows do que nunca antes. Como em qualquer situação capitalista, o mercado punk está vivenciando uma mudança para longe da idéia original da arte (ou produto), em direção à criação de uma crença ou doutrina acerca do mercado do produto. Por que as gravadoras iriam rotular-se como gravadoras punks? Por que elas estão vendendo estilo e construindo uma subcultura, ao invés de promover honestidade e criatividade de seus artistas. Esse é um triste padrão na indústria da música que ocorre tanto nos selos independentes quanto nas grandes gravadoras. Portanto, não é de se estranhar que exista muita polícia punk por aí, monitorando se bandas como a nossa se encaixam no estereótipo e em suas visões dogmáticas de aceitabilidade. Elas exibem o mesmo comportamento dos clones acadêmicos que se graduam aos montes a cada ano, prontos para discriminar aqueles que desafiam suas ideologias ensinadas. A carta que eu recebi há duas semanas de um fã descontente, foi tristemente remanescente da perseguição que senti na escola dos doidões. É também um exemplo claro de como é fácil seguir a corrente e advogar sentimentos comuns e sem embasamento, os quais acabam me motivando a provocar ainda mais. “


Texto de 1996 - e totalmente atual.
Tá falado, Greg!

3 comentários:

Rogerio Furtado Magalhães disse...

Nao tenho noção de toda a discografia do Bad Religion, mas o 80-85 é ótimo!!!
Marcou uma fase quando escutava bastante punk hardcore...

Arthur Ferreira disse...

Boa, Seu Conde!
Arrebentou na personalidade do Blog, ficou 10.
dia 27 eu programei uma publicação sobre o Batman Cavaleiro das Trevas confere lá!

Arthur Ferreira disse...

Só uma infâmia:
O Bad Religion em 2000 abriu show para o blink182...
O Blink sempre queimou o filme de qualquer banda independente ou alternativa.Que eles estejam em Paz!